Por tantas Eras eu me perguntei:
Afinal, quem sou eu?
Éons se passaram, eu vivi em cavernas, aprendi a falar, aprendi a usar o fogo.
Eu me perdi nesse emaranhado de confusões que me rodeavam, me perdi na luxuria, na gula, na avareza, no medo, na ganância e em todo tipo de sentimento que você mesmo que inconscientemente, sabe. Porque você era eu. E eu era você.
Solitário. Sem saber o porque de tudo isso, me perdi nas minhas dúvidas. Nos meus fracassos. Cada vez eu fui mais ao fundo nessa minha sub existência.
Por vezes me senti abandonado, por algo ou alguém que nem sei quem é.
Eu não podia ver nada daquele 'além' que eu tanto ouvia, e mais, aquilo que eu queria acreditar que existia, mas que eu só ouvia dentro das religiões que foram minhas doutrinas nessa busca por mim mesmo.
Eu ouvia que eu só poderia me encontrar se eu seguisse isso e aquilo, e aquilo e isso.
Procurei por mim em tantos lugares, em tantos prazeres, em tantos amores, em tantos empregos...em tantas vidas.
Conheci a bebida, as drogas.
Matei, morri.
Morri tantas vezes, mas a pior de todas foi ter morrido estando vivo.
Procurei por mim nos filhos e nos pais que tive, nos casamentos, mas nunca no espelho.
Mas em algum momento eu olhei pro espelho e percebi aquela Presença ali. Era alguém que eu não conhecia. Era um total estranho aquele que olhava pra mim, mas havia algo tão familiar naqueles olhos.
E o mais engraçado é que ele sorria, parecendo que me conhecia.
Sim, eu fiquei assustado, achei melhor correr, mas não deu. Simplesmente travei, eu sempre quis tanto saber quem era eu, e naquele momento eu vi, que aquele estranho sabia quem eu era.
Comecei a ver que eu estava mais atento ao que acontecia ao meu redor. O encontro com aquele estranho mudou alguma coisa dentro de mim.
Percebi que algo de muito errado, ou suspenso existia no meu mundo, ou no mundo que eu achava que era meu, ou no mundo que eu achava que era eu.
Vi que eu não era o único a viver vida após vida procurando por esse 'eu' que eu não conhecia, mas sentia que devia estar em algum lugar por aí.
Em algum momento eu simplesmente parei e olhei pra fora, vi todas aquelas pessoas buscando algo que nem sequer sabiam que estavam procurando. Pessoas andando sem direção. Percebi que elas pareciam zumbis, correndo e vivendo vidas que não eram suas. E não por imposição de alguém, mas por não saberem quem elas eram de fato. Parece que corriam pra tentar se achar, e quanto mais corriam, mais se perdiam.
Ali, parado, a multidão passando e parecia que eu tinha acordado de um sonho, parecia que eu era o único que tinha acordado, os outros continuavam dormindo.
Eu olhei pro céu e acho que pela primeira vez vi o céu.
Sei que parece confuso, e era assim que eu estava me sentindo. Mas pela primeira vez na minha vida, eu soube, eu tive certeza de que estava indo na direção certa.
Se aquele estranho me conhecia, ele poderia me mostrar. Comecei a me encontrar com ele mais vezes, logo ele não me assustava tanto, até certo dia percebi que estava começando a gostar dele.
O estranho do espelho começou a andar comigo, ele estava agora na maioria das vezes ao meu lado.
E o tempo, num belo dia de verão desapareceu. O estranho que agora falava comigo, me disse que o tempo era um dos responsáveis por essa busca sem fim que eu sempre tive. Que por acreditar que ele (tempo) existia, eu procuraria por mim no passado ou no futuro.
Bem, ele devia estar certo, porque foi isso que por muito tempo eu fiz.
Era tão novo e assustador aquele contato com o estranho do espelho, porque ele não queria me vender nada, não fazia propaganda de nada, não era de nenhuma religião, nem queria que eu o seguisse, e o mais absurdo era que tudo o que ele dizia ressoava no meu coração. Ah, sim. Eu descobri que tinha um coração. Não somente o órgão me mandava sangue pra todo meu corpo, mas aquele coração que me deixava sentir quando uma verdade era a minha verdade. Sim, o estranho do espelho me disse que existiam muitas verdades, e eu senti com o meu novo coração que isso também era verdade.
As conversas com ele eram tão agradáveis. Tão confortantes!
Eu sentia vindo dele uma espécie de calor, terno, amoroso, tranquilo...indefinível. Esse era definitivamente o caminho que eu tanto procurava.
Por vezes, ele não dizia nada, nem eu perguntava algo. E ainda assim, eu me sentia dentro daquela vida que eu esperava tanto que de fato existisse.
Era um vazio completo.
Comecei a ver também que meus passos serenaram, eu andava mais a pé, olhava mais pra tudo àquilo que a mim se apresentava, seja uma árvore, um lixo jogado no chão, uma flor, uma borboleta, um pernilongo tentando morder a ponta da minha orelha.
Vi que antes eu classificava/nomeava/rotulava/especificava tudo aquilo que eu via ou sentia.
Vi que eu precisa definir tudo o que acontecia, fora ou dentro de mim. E que Agora, eu estava simplesmente observando. E vi também, que estranhamente esse que observava estava em mim, mas além de mim, pois 'ele' não julgava nada.
Parei de ter pressa. Eu não queria mais ir a lugar nenhum. Comecei a me sentir bem onde eu estava.
Meu contato com o estranho do espelho era cada vez mais profundo, mas nunca lhe perguntei o que eu tanto queria saber:
''Quem é você?''
''Eu, Sou você.''
''E quem sou Eu?''
''Deus, Universo, Fonte de Luz, como queira''.
''E o que eu vim fazer aqui?''
''Ser Deus''.
Fiquei confuso.
''Mas se Eu Sou Deus, porque eu viria pra cá SER, se eu já o era?''
Ao que o estranho disse:
'' Você decidiu, antes de vir para cá que esqueceria que era Deus.
Na sua infinita inteligência você decidiu descobrir a si mesmo através do véu do esquecimento e da experiência física, seja ela uma pedra, uma flor ou um ser humano.
No início, embora não se lembrasse quem era, você vivia sentindo e manifestando Seus poderes conscientemente.
Você desfrutava somente do bem, do bom e do belo.
Mas a medida que o tempo passou a ser uma referência pra você, o sentimento de separação começou a tomar conta do teu ser, por não se lembrar mais quem era e de onde vinha, começou a não aceitar o que achava que era separação. Por acreditar no tempo, você passou a categorizar as coisas, qualidade do tempo, qualidade da ilusão que se chama tempo.
E essa categorização vinda da não aceitação passou a ser cada vez mais profunda e sutil. Você usou isso como referência pra se assegurar de que existia.
Passou a precisar de referências, achou que elas o ajudariam a não se perder mais. Chamou o amarelo de amarelo, o belo de belo, de gordo, de grande, de quente, de forte, de suave, de engraçado, de árvore, dualizou as coisas chamando-as de boas ou ruins, bonitas ou feias, de certo e errado, enfim, criou-se aí o sofrimento.
Você parou de VIVER o AGORA que cada um desses momentos proporcionou por não aceitá-los.
Você vive remotamente as qualidades da Presença de Deus. Mesmo sem lembrar que o É. Você continua manifestando características da inteligência infinita que você É, e os parâmetros é uma delas. O seu desejo por ter o melhor, por achar que tudo devia ser fácil, por querer ser perfeito são vagas lembranças da verdade que É. Pois você sendo Deus, sendo o Universo você é perfeito. Tudo é fácil sim, tudo é bom sim. E tudo aquilo que diz o contrário são distorções da parte de você que acha que a separação existe. Da parte de você que não acredita que você seja Deus.
Na sua infinita inteligência você criou um ponto de restauração antes de embarcar nessa viagem, como se faz nos computadores, para que você pudesse voltar ao ponto estipulado caso a amnésia fosse muito profunda.
Em cada experiência 'racional' que você decidiu manifestar(ser humano), você pôs um gatilho que ao ser acionado faria com que você tentasse voltar e esse gatilho é 'Quem Sou EU?'
Ao decidir firmemente querer saber quem é você, você encontraria as respostas uma a uma deixadas por você mesmo como migalhas ao longo do caminho, como na história de João e Maria. Mesmo sem saber que eram migalhas, a medida que a verdade vai se revelando diante dos teus olhos TODAS as migalhas juntadas até hoje se encaixarão de maneira perfeita, para provar pra sua mente, que necessita de provas, que a resposta para sua pergunta que você É Deus seja acreditada por você. O Universo/Deus, essa inteligência infinita se organiza e traz tudo aquilo que você está pronto para ver naquele momento. Mesmo aquilo que você não entende, fica registrado e será entendido na hora certa.
O gatilho faz com que INEVITAVELMENTE você volte a saber e Ser que é Deus vivendo uma experiência física, porque no momento em que você faz essa pergunta pela primeira vez, o Universo imediatamente começa a trazer-te sinais, mesmo que você não se dê conta deles,como eu disse, são as migalhas. As migalhas são códigos que se ativam, sinetes que tocam pondo mais uma peça no quebra-cabeças que agora começa a tomar forma, revelando seu conteúdo. As migalhas podem estar e estão em qualquer e em todo lugar. Você não precisa procurar por elas, elas virão até você. Não tente encontrar, não vai achá-las, elas virão quando você puder as ver...você só precisa saber que está tudo bem, e que você está seguro.
Saiba também que tudo o que fez ou deixou de fazer, seja em que experiência(vida) for, está tudo bem, pois não há certo ou errado. Você é Deus.''
Por Juliane
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